quarta-feira, 28 de julho de 2010

Teresa Haguette e a ciência política na Uece

Por Josênio Parente

Duas décadas de grandes transformações sociais acompanham o percurso histórico do curso de Ciências Sociais da Uece. Cai o muro de Berlin e com ele todo um projeto de sociedade e de política das gerações que viveram na segunda metade do século XX. Pensávamos que estávamos caminhando para o fim da história. Com o término da guerra fria acompanha com ela a ordem mundial pós-Segunda Guerra mundial. O Brasil aprovou sua Constituinte cidadã e elegeu seu primeiro presidente da República. Collor de Melo eleito fez mudanças de grande significado, sendo relevante a quebra do modelo nacional desenvolvimentista ao introduzir a competitividade na economia.

As ciências sociais são frutos dos dilemas desta modernidade gestada no Ocidente. Os 20 anos de história do curso de Ciências Sociais da Uece, portanto, foi marcada por essa novidade: a competitividade na economia brasileira contaminando as relações sociais. O capitalismo brasileiro, até então, protegia seus atores pela reserva de mercado e pelo corporativismo, impedindo que a sua lógica chegasse à sociedade da forma como aconteceu. O individualismo e a ambição tomaram o lugar da vida comunitária, estabelecendo-se um estado de guerra civil.

Com um cenário desse, com crise de ética, os cientistas políticos, os sociólogos e os antropólogos são solicitados para explicar a nova realidade. As ciências sociais produzidas no Ceará têm contribuído com relevantes trabalhos para compreender e interferir nesta realidade. E é aí que o curso de Ciências Sociais da Uece se associa à da UFC, da Unifor e da UVA e outros que apareceram posteriormente.

Nesse processo, queremos destacar o trabalho pioneiro da professora Tereza Haguette que imaginou um modelo de Ciências Sociais para a Uece com diferencial, pois mais ligado às Ciências Políticas. Seria naquelas áreas onde a sociedade brasileira e, no caso específico, a cearense, iria precisar para os desafios das transformações em curso.

Teresa Haguette falecera deixando esse legado. Se o Ministério da Educação enquadrou as Ciências Sociais da Uece ao padrão nacional, seu projeto inicial teve continuidade. O mestrado de Políticas Públicas, embora sem a sua presença, mas com uma realidade de dois departamentos: Ciências Sociais e Serviço Social, este com 60 anos de fecunda atividade no Estado, pode ser assim considerada.

O grupo de Ciência Política da Uece, com três doutores na área, os professores Filomeno de Moraes, Hermano Ferreira, eu, Josênio Parente, tendo a professora Lucili Granjeiro pedido aposentadoria, quer prestar essa homenagem. O professor. Guilherme também tem contribuído para o debate da política e se associa ao grupo nessa reverência. Queremos nos associar a esse momento para enfrentar, com otimismo, os desafios que a nova realidade da sociedade brasileira apresenta, mesmo sabendo das dificuldades que a próxima geração ainda irá encontrar para construir um ambiente civilizado, com ética e mais oportunidades para todos.

Josênio Parente - Cientista Político. Professor da Universidade Estadual do Ceará, coordendor do Grupo de Pesquisa Democracia e Globalização (fjosenio@terra.com.br)



Link do artigo no Jornal OPOVO: http://opovo.uol.com.br/app/o-povo/opiniao/2010/07/27/int_opiniao,2024272/teresa-haguette-e-a-ciencia-politica-na-uece.shtml

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