quinta-feira, 16 de junho de 2011




Brasil em Movimento – diálogos com Gilberto Freyre
A proposta da mesa redonda “Brasil em Movimento – diálogos com Gilberto Freyre” consiste na promoção de um espaço para o debate acerca das rupturas e contribuições teórico-metodológicas e das questões postas sobre diversos aspectos do pensamento social brasileiro nas obras de referência deste autor. Trata-se de suscitar o encontro de diferentes perspectivas de análise feitas a respeito de suas obras, possibilitando a construção de um olhar multifacetado sobre Gilberto Freyre. Pensando nisso, os diálogos com o autor serão norteados a partir dos seguintes enfoques: as perspectivas histórica, sociológica e política (com ênfase na questão étnico-racial), a fim de que as principais temáticas possam ser contempladas pela discussão.
A mesa redonda, que está sendo promovida pelo curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará, ocorrerá no dia 28 de junho de 2011, às 9h, no Auditório Pe. Luís Moreira, localizado no Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará.
As inscrições podem ser feitas através do email: sociologia3uece@gmail.com

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Patinhas: “O PCdoB prega a unidade das forças de esquerda”

O PCdoB foi um dos partidos convidados para participar do “I Seminário Repensando os Tradicionais Partidos de Esquerda por Eles Mesmos”, realizado por professores e alunos da Universidade Estadual do Ceará (UECE). O debate que aconteceu na manhã desta quinta-feira (13/01), no Centro de Humanidades da UECE, traz como questão central a reflexão sobre os espaços políticos dos partidos tradicionais de esquerda no quadro atual brasileiro.


Os principais partidos de esquerda do Brasil foram convidados para falar sobre suas ideias. O PCdoB, partido quase centenário, foi o tema dos debates desta quinta-feira. Carlos Augusto Diógenes (Patinhas), presidente estadual do Partido, foi o debatedor e abordou temas como a trajetória da legenda, as dificuldades, os avanços e os desafios dos comunistas brasileiros desde sua fundação no Brasil.

Patinhas parabenizou professores, estudantes e Universidade pela iniciativa de promover o seminário. “Esta é uma forma aberta que temos de construir este debate, buscando opinar, contribuir de maneira aberta, fraterna e construtiva para o fortalecimento dos partidos políticos. Este encontro será importante para nós também, pois estamos fortalecendo nossa ligação com a Universidade, com as pessoas que pensam e estudam a realidade política brasileira. Será um caminho de mão dupla porque também aprenderemos com vocês”.

História
O dirigente comunista iniciou sua apresentação falando sobre a fundação do Partido no Brasil. “Nascemos de uma corrente comunista, fundada por Karl Marx. Já construímos aqui uma longa história. Nossa fundação foi em 1922. Neste ano, no dia 25 de março, completaremos 89 anos de luta”. A criação do Partido Comunista do Brasil surgiu como consequência do movimento operário que se desenvolvia no país na época e sua criação teve influência da Revolução Russa, ocorrida em 1917.

Segundo Patinhas, o PCdoB sempre carregou a marca da defesa da liberdade política. “Em março completamos 89 anos de fundação. Destes, durante 61 anos fomos impedidos de falar livremente para o povo, fazer isso que estamos fazendo aqui. Enfrentamos momentos difíceis e só conseguimos a legalidade em 1985, com o fim do regime militar. Na maior parte da nossa trajetória, atuamos na clandestinidade”, recorda.

O PCdoB, segundo Carlos Augusto, sempre defendeu bandeiras da liberdade e do nacionalismo. “Fomos também o primeiro partido político a defender a reforma agrária e o direito dos trabalhadores, por exemplo. Temos orgulho da nossa trajetória permeada de acertos e erros, avanços e recuos”, avalia.

Novo modelo socialista
Em 1989, poucos anos após a legalidade, o PCdoB encarou um momento delicado na sua história. “Vivíamos num mundo bipolar, onde Capitalismo e Socialismo, Estados Unidos e União Soviética duelavam. Estávamos saindo da clandestinidade e ainda vivíamos resquícios da Gerrilha do Araguaia, quando muitos dos nossos tombaram em defesa da soberania nacional, da liberdade e democracia. Estávamos nos reerguendo quando surge o desmoronamento do modelo soviético. Tivemos que buscar compreender o novo momento político, adaptar nossos ideais de Socialismo à nova realidade, numa nova situação de liberdade política no Brasil”.

Com a queda do modelo soviético, surge a luta em defesa do Socialismo sob novas condições. “Muitos partidos não resistiram e se perderam na história. Ao contrário disso, nós reafirmamos a importância do Socialismo e insistimos no questionamento ao Capitalismo”, relembra o presidente estadual do PCdoB.

Os críticos ao modelo soviético enfatizavam que, com sua queda, o Capitalismo seria o caminho da estabilidade e da paz. “Vinte anos depois, o que vemos hoje no mundo é paz? Muito pelo contrário. Vivenciamos crises profundas, desemprego, permanentes ameaças de guerras. Hoje, comprovamos que o Capitalismo é um modelo senil. O Socialismo não acabou com o modelo soviético. Ele ressurgiu”, considera.

Carlos Augusto reforça que o Socialismo brasileiro foi repensado após os recuos de modelos derrotados. “Pegamos a experiência da União Soviética e vimos que as ideias do Socialismo continuavam e a luta se daria em novas condições. Levamos em conta a análise dos críticos ao modelo soviético e procuramos avançar nessa análise. Tiramos lições e consequências para a evolução do pensamento do PCdoB”. China, Cuba e Vietnã fizeram reformas que prosseguem no ideário socialista.

Comunistas no Brasil
De acordo com Patinhas, no Brasil, o PCdoB prega a unidade das forças de esquerda. “Às vezes esta condução até nos prejudica, em projetos eleitorais, por exemplo. Mas temos clareza de que esta união trará mais progressos para o país. Fora o Partido dos Trabalhadores (PT), nós fomos o único partido que apoiou Lula em todas as eleições das quais ele participou. Temos a visão de que é preciso derrotar o Neoliberalismo, construir uma alternativa progressista e acreditamos que esta não é tarefa só de um partido, mas de uma frente de forças aliadas. Prezamos, porém, a característica de cada legenda. Esta diversidade faz a união”, acredita.

Programa do Partido
O PCdoB elaborou no último seu 12o. Congresso, em 2009, um novo programa socialista. “Nosso programa é a evolução do pensamento do PCdoB. Após a legalidade, o Partido teve a chance de respirar com liberdade, contou com melhores condições para pesquisas e conhecer a realidade brasileira além de extrair lições das experiências socialistas no mundo. Deste debate que aconteceu em todas as bases do Partido, reunindo comunistas de todo o país, resultou nosso programa: O Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento”.

Segundo Patinhas, o programa leva em conta a realidade brasileira, suas características e propõe um Socialismo com a maneira de ser do povo brasileiro. “Buscamos elementos desde a formação do estado e da sociedade brasileira”, afirma.

Saltos civilizacionais
O dirigente comunista ressalta que o país viveu dois saltos civilizacionais. “O primeiro, ainda no século XIX, foi a própria formação do Estado uno, desta grande nação. As marcas ocorridas durante a Colônia e o Império - a violência das elites dominantes e o escravismo - ainda ficaram até hoje. O segundo avanço surge com o movimento de 1930, com a industrialização, direito dos trabalhadores, voto das mulheres dentre tantas outras conquistas”, enumera.

Carlos Augusto Diógenes acredita que agora o Brasil está preparado para dar seu terceiro salto civilizacional. “Buscamos discutir com a Academia e com a sociedade de um modo geral, meios de transformar este país numa potência mundial nas mais diversas áreas como Ciência, Tecnologia, Saúde, Educação, Habitação. Lutaremos por um país avançado, moderno e justo. Reconhecemos que temos problemas e entraves vindos da nossa própria formação, mas consideramos que o processo de afirmação da nação brasileira já está em curso”.

O comunista defende a necessidade de construção de debates e a discussão de um novo projeto nacional de desenvolvimento. “Estas ações já foram sinalizadas nos Governos do ex-presidente Lula. Podemos citar o PAC, Bolsa Família e o combate à pobreza. Precisamos agora pensar em projetos mais globais, integrados, meios de enfrentar questões de reformas estruturantes na sociedade brasileira como a reforma agrária, urbana, política, tributária, na educação e nos meios de comunicação”, enumera.

Visando contribuir para a efetivação destas reformas que beneficiarão toda a sociedade brasileira, o PCdoB tem dialogado com diversas forças. “Apresentamos nossas propostas contidas no novo programa socialista com o objetivo de melhorar a vida das pessoas. Não dizemos, porém, que este documento esteja pronto e acabado. Buscamos momentos como este para debater, junto com a sociedade e a Universidade, ideias e meios de implantar este programa”, reforça Patinhas. O dirigente lamenta que o período eleitoral, período ideal para discutir assuntos relevantes para o país, não tenha sido utilizado para este fim. “Infelizmente as campanhas se resumem à visão de marqueteiros que buscam ganhar eleição”.

Desafios 
De acordo com Carlos Augusto, o PCdoB vive uma fase de afirmação e crescimento no país. “Vemos novas lideranças projetadas em todo o país; o Partido participa do executivo e legislativo em várias cidades; temos força junto aos movimentos sociais; ativa participação na luta de ideias; nossa atuação tem funcionamento permanente em órgãos de direções e estamos agregando lideranças expressivas das mais diversas áreas”, contabiliza. Apesar dessas conquistas, o dirigente alerta que ainda são muitos os desafios a serem superados. “Para a realidade brasileira, para o que nós propomos para o país, somos ainda pequenos e enfrentamos desafios grandes. No atual momento, é necessário um PCdoB grande, com influência real na massa”, considera.

Quando afirma que é necessário um partido grande, Patinhas faz questão de ressaltar que isto não se restringe apenas ao crescimento de filiados. “Nosso desafio de transformação da sociedade que queremos requer fileiras de militantes estruturados desde as bases do Partido, realizando atividades nas outras frentes como a da luta de ideias e junto aos movimentos sociais. O PCdoB precisa de uma estrutura de quadros que, juntos, tenham uma atividade política permanente Atuamos de forma estruturada e constante e não somente em períodos eleitorais”, ratifica.

Com uma visão a médio e longo prazos, o PCdoB já se planeja para um futuro próximo. “Pensamos daqui a 20, 30 anos. Até aqui, o Partido resistiu a grandes ofensivas ideológicas, tivemos uma geração de dirigente que assumiu nos anos 60, 70 e, muitos, deram a vida pelo Partido. Já estamos trabalhando com a perspectiva de continuidade desta corrente e pela constituição do poder socialista no Brasil”, projeta o dirigente.

Ao mesmo tempo em que o Partido vive uma onda de crescimento e liberdade política, encara também outras problemáticas. “Uma moeda tem duas faces. Vivemos o início de um tempo de crescimento e fortalecimento da democracia brasileira, mas, por outro lado, a elite desenvolve uma campanha midiática de desmoralização da política, sempre colocando todos os políticos no mesmo nível. Ao lado disso, no nosso sistema eleitoral, o voto é nominal e o financiamento de campanha é privado. São questões que arrefecem o espírito de militância. São pressões reais e concretas que nós buscamos nos contrapor”, considera o presidente estadual do PCdoB.

Três frentes de atuação
Dentro dos desafios que surgem, Patinhas ressalta a atuação mais ampla dos comunistas. “Somos um partido que não vive só de período eleitoral. Atuamos também junto aos movimentos sociais e na luta de ideias. Deveremos reforçar ainda mais nossa atuação nessas outras frentes”. O dirigente comunista considera de grande importância, neste momento, o Partido voltar suas forças para reforçar sua atuação nestes dois pilares. “No final, tudo caminha junto, não dá pra dissociar uma da outra, pois elas estão articuladas entre si. Ao contrário, uma ajuda a outra neste processo de acumulação de forças. Os movimentos sociais terão grande papel nesta nova fase”, avalia.

Essencialmente comunistas
O dirigente ratificou ainda a importância de reafirmar o Socialismo em cada ação desenvolvida pelo PCdoB, nas diversas frentes de atuação. “Temos a nossa marca política e procuramos desenvolvê-la com amplitude. Sempre buscamos aliados, mas não negamos que, essencialmente, somos comunistas e sonhamos com a transformação da nossa sociedade. Defendemos uma convivência democrática e respeitosa com todos os partidos de esquerda, respeitamos a diversidade de opiniões, dialogamos com setores mais avançados da sociedade e com os diversos movimentos sociais. Buscamos unir o povo brasileiro para a construção de um Brasil soberano, próspero, desenvolvido, moderno, justo e avançado”, defende





Fonte:http://www.vermelho.org.br/ce/noticia.php?id_secao=61&id_noticia=145469

PCdoB em debate na UECE

O debate faz parte do “I Seminário Repensando os Tradicionais Partidos de Esquerda por Eles Mesmos”.


O presidente estadual do PCdoB/CE, Carlos Augusto Diógenes (Patinhas) fará palestra nesta quinta-feira (13/01), a partir das 14h30 no Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará (UECE). No encontro, o comunista irá falar sobre a trajetória do Partido quase centenário, o mais antigo do país.

O seminário que discutirá Partidos de Esquerda traz como questão central a reflexão sobre os espaços políticos dos partidos tradicionais de esquerda nesse novo quadro: Haverá lugar para tantos partidos com propostas semelhantes no seio da sociedade civil? Haverá possibilidade de convivência na diversidade de forma a criar fidelidade e militância no campo tradicional da esquerda ou o horizonte é de fusões e assimilações? Enfim, que é o seu espaço nesse quadro partidário que se vislumbra, com partidos políticos fortes e disputando fidelidade do eleitor e garantindo a ética na política?

Para Carlos Augusto, esta será mais uma oportunidade para um discussão e debate. Os partidos poderão se expressar e dialogar sobre os desafios dos novos tempos. As discussões já abordaram As Perspectivas e Desafios dos Partidos de Esquerda do Brasil.

O seminário segue até a próxima sexta-feira, com a participação do PDT, PCB, PSB, PCdoB e PT.

Serviço

“I Seminário Repensando os Tradicionais Partidos de Esquerda por Eles Mesmos”
Local: Auditório Padre Luíz Moreira (Centro de Humanidades da UECE - Av. Luciano Carneiro, 345 – Fátima)


em:14/01/2011

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Lançamento do Livro: dos Andes aos Pampas

O lançamento do livro Dos Andes aos Pampas é fato alvissareiro para o Ceará que se internacionaliza. O estudo da América Latina vem deixando a marca dos romantismos retóricos da velha guarda. A quadra é de uma sociologia política atenta aos temas inéditos latino-americanos. 

O Brasil e seu entorno é matéria pública sujeita ao controle republicano. E deve ser objeto de escrutínio dos laboratórios de acompanhamento de temas estratégicos nacionais. A América Latina, suas transformações recentes e modelos políticos múltiplos, merecem ser observadas pela nova inteligência das universidades brasileiras.

A inserção do Brasil, da Patagônia à fronteira mexicana com os Estados Unidos, é matéria das diferenças eleitorais desses dias na disputa plebiscitária das eleições presidenciais. Há, no Brasil de hoje, visões mais próximas à integração sul-americana e outras mais céticas com relação a tal projeto com vizinhos volúveis.

Em bom momento chegam interpretações da América Latina de matriz alencarina, em torno de livro organizado por professores da Universidade Estadual do Ceará, com capítulos resultantes de suas pesquisas, bem como de contribuições de autores latino-americanos e de outras universidades brasileiras. Quais as grandes contribuições da obra?

Em primeiro lugar, estudam os autores a emergência de uma nova democracia de massa na América Latina, a formação de novos tecidos sociais e representações políticas em partidos populares bem como as demandas por políticas públicas em grandes sociedades, como a brasileira e a mexicana. Desbastar alguns desses tópicos candentes, especialmente no que tange à construção de cenários, já é um resultado animador dos estudos publicados no livro.

Em segundo lugar, ausculta-se o peso do Brasil na região. Exploram os autores as estruturas macro que devem ser observadas na análise mais temperada e estrutural na ampliação do raio do Brasil na América Latina e no Caribe. A tendência ascensional do Brasil é nota de qualquer estudo acadêmico nos grandes centros estratégicos do mundo. O Brasil vem explorando, com bônus e ônus, a elevação do seu estatuto internacional para mover-se em todos os tabuleiros da política internacional em curso.

A América do Sul é lócus da ação brasileira. A integração do Mercosul, com altos e baixos, segue. Mas a América Central não é exceção, como não é a região caribenha, nas quais, diante da perda de peso relativo do México, o Brasil entrou. Toca empreendimentos lá, como na América do Sul, empreiteiras brasileiras. O comércio aumentou. Os investimentos não são irrisórios. 

A mudança de paradigma operacional na política externa do Brasil, da participação pela prudência, em favor do ativismo diplomático, será interessante para os analistas do futuro. O livro Dos Andes aos Pampas sugere uma resposta inicial. Boa leitura!
 
José Flávio Sombra Saraiva é diretor-geral do Instituto 
Brasileiro de Relações Internacionais (Ibri)

JOSÉ FLÁVIO SOMBRA SARAIVA
PhD pela Universidade de Bimingham, Inglaterra e professor Titular em Relações Internacionais (UnB)
fsaraiva@unb.br


quarta-feira, 28 de julho de 2010

Teresa Haguette e a ciência política na Uece

Por Josênio Parente

Duas décadas de grandes transformações sociais acompanham o percurso histórico do curso de Ciências Sociais da Uece. Cai o muro de Berlin e com ele todo um projeto de sociedade e de política das gerações que viveram na segunda metade do século XX. Pensávamos que estávamos caminhando para o fim da história. Com o término da guerra fria acompanha com ela a ordem mundial pós-Segunda Guerra mundial. O Brasil aprovou sua Constituinte cidadã e elegeu seu primeiro presidente da República. Collor de Melo eleito fez mudanças de grande significado, sendo relevante a quebra do modelo nacional desenvolvimentista ao introduzir a competitividade na economia.

As ciências sociais são frutos dos dilemas desta modernidade gestada no Ocidente. Os 20 anos de história do curso de Ciências Sociais da Uece, portanto, foi marcada por essa novidade: a competitividade na economia brasileira contaminando as relações sociais. O capitalismo brasileiro, até então, protegia seus atores pela reserva de mercado e pelo corporativismo, impedindo que a sua lógica chegasse à sociedade da forma como aconteceu. O individualismo e a ambição tomaram o lugar da vida comunitária, estabelecendo-se um estado de guerra civil.

Com um cenário desse, com crise de ética, os cientistas políticos, os sociólogos e os antropólogos são solicitados para explicar a nova realidade. As ciências sociais produzidas no Ceará têm contribuído com relevantes trabalhos para compreender e interferir nesta realidade. E é aí que o curso de Ciências Sociais da Uece se associa à da UFC, da Unifor e da UVA e outros que apareceram posteriormente.

Nesse processo, queremos destacar o trabalho pioneiro da professora Tereza Haguette que imaginou um modelo de Ciências Sociais para a Uece com diferencial, pois mais ligado às Ciências Políticas. Seria naquelas áreas onde a sociedade brasileira e, no caso específico, a cearense, iria precisar para os desafios das transformações em curso.

Teresa Haguette falecera deixando esse legado. Se o Ministério da Educação enquadrou as Ciências Sociais da Uece ao padrão nacional, seu projeto inicial teve continuidade. O mestrado de Políticas Públicas, embora sem a sua presença, mas com uma realidade de dois departamentos: Ciências Sociais e Serviço Social, este com 60 anos de fecunda atividade no Estado, pode ser assim considerada.

O grupo de Ciência Política da Uece, com três doutores na área, os professores Filomeno de Moraes, Hermano Ferreira, eu, Josênio Parente, tendo a professora Lucili Granjeiro pedido aposentadoria, quer prestar essa homenagem. O professor. Guilherme também tem contribuído para o debate da política e se associa ao grupo nessa reverência. Queremos nos associar a esse momento para enfrentar, com otimismo, os desafios que a nova realidade da sociedade brasileira apresenta, mesmo sabendo das dificuldades que a próxima geração ainda irá encontrar para construir um ambiente civilizado, com ética e mais oportunidades para todos.

Josênio Parente - Cientista Político. Professor da Universidade Estadual do Ceará, coordendor do Grupo de Pesquisa Democracia e Globalização (fjosenio@terra.com.br)



Link do artigo no Jornal OPOVO: http://opovo.uol.com.br/app/o-povo/opiniao/2010/07/27/int_opiniao,2024272/teresa-haguette-e-a-ciencia-politica-na-uece.shtml

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Com o objetivo de fortalecer a exportação de produtos do Ceará para países como Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau, o professor João Bosco Monte elaborou um projeto de pesquisa que procura investigar o potencial de mercado e tendências do comércio entre Ceará e países de língua portuguesa, aprovado pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB).
O projeto teria surgido de uma observação antiga a respeito das relações comerciais entre os países. Segundo o professor, existe uma “lacuna no que diz respeito a se conhecer as necessidades destes países”. O financiamento viabilizará a realização de visitas técnicas, até 2011, a cinco países (São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola e Portugal) para produzir relatórios com o perfil de cada mercado.
As conclusões do trabalho serão publicadas na forma de livro e disponibilizadas aos empresários cearenses. Segundo o autor do projeto, João Bosco, os países que serão estudados apresentam grande potencial de mercado para o Brasil, “sobretudo o Ceará, que é localizado em um ponto estratégico para as rotas marítimas”.


*João Bosco Monte é professor do curso de Comércio Exterior e da pós-graduação em Direito Internacional da Universidade de Fortaleza (Unifor), além de professor do Mestrado em Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará (Uece). Participa de grupos de pesquisa como o Núcleo de Estudos Internacionais (NEI) e Democracia e Globalização, pela Uece.

Fonte: Jornal O Povo (publicado no Caderno Economia em 26 de junho de 2010)  e em: http://www.brasilportugal.org.br/ce/noticia/1545,bnb-financiara-projeto-de-investigacao-de-mercados-em-paises-membros-da-cplp.html

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Entrevista

Pacto de cidadania

  ELEIÇÕES Votar é importante. Mas não basta. Cabe ao cidadão participar da vida pública, acompanhando o desempenho de seus representantes eleitos democraticamente. Nisto consiste fazer valer o pacto político que deve ser selado a cada processo eleitoral
 
  Luís Henrique Marques
 
  As portas de um novo processo eleitoral, esperanças e desesperanças sobre os destinos da sociedade brasileira vêm à tona, uma vez que é a partir das ações políticas que mudanças estruturais de uma comunidade ou sociedade podem ocorrer. O equívoco é pensar que as mudanças cabem apenas àqueles que são eleitos como representantes da população para cargos nas diferentes esferas do poder público. "Para James Madison, um dos grandes intérpretes das instituições políticas norte-americanas quando da implantação de sua democracia, a primeira condição para que uma nação seja democrática é que tenha uma sociedade capaz de criar um governo e, ao mesmo tempo, seja capaz de controlá-lo", afirma o especialista em democracia participativa, Alexandre Aragão.
  Com efeito, não basta o voto. Ele é apenas o primeiro passo de um processo contínuo que, num ambiente democrático, implica a conquista sempre maior da liberdade e da justiça social. Por isso, para Aragão, "a liberdade e a justiça social não são uma propriedade adquirida de uma vez por todas". "Elas foram plantadas no solo sociopolítico que deve ser fertilizado, diariamente, por ações de um público sempre mais instruído e articulado politicamente, senão secará e definhará", completa ele. 
  Em outras palavras, segundo o especialista, cabe ao cidadão acompanhar sempre com opiniões, sugestões, cobranças, aquilo que seus representantes no poder público estão fazendo ou deixando de fazer no que diz respeito à atenção aos direitos civis. E isso deve acontecer durante todo o período em que esses representantes estiverem ocupando os cargos públicos para os quais foram eleitos. Não apenas às vésperas de um processo eleitoral.
  De acordo com Sérgio Prévidi, presidente nacional do Movimento Político pela Unidade (MPpU), ligado ao Movimento dos Focolares, esse compromisso entre o cidadão e o seu representante eleito - o chamado pacto político - exige, quando do processo eleitoral, que se estabeleça um diálogo inicial entre ambos. "Assim sendo, o candidato apresenta suas propostas, dialoga com seus eleitores, ouve deles as suas necessidades, discute-as e, por fim, se estabelece um pacto entre as propostas do candidato e as reivindicações dos eleitores", explica Prévidi. 
  "No diálogo, se estabelece uma pauta mínima que o candidato se compromete em realizar e o eleitor em ajudar na realização, dentro das suas possibilidades", conclui. Uma postura eticamente definida, lealdade com os companheiros de partido e coligação, a manutenção de uma polêmica serena e digna - especialmente com os adversários - estão, segundo Prévidi, entre as outras exigências que devem ser observadas nesse pacto.
  Alexandre Aragão ressalta também que o candidato, uma vez eleito, deve manter a continuidade dos encontros com grupos organizados para os quais deve prestar contas de tudo o que está realizando. Segundo ele, esta é uma forma de o eleito "submeter-se ao acompanhamento por parte do eleitorado, permitindo-lhe oferecer a sua colaboração permanente de estímulo, de crítica, de controle, de corresponsabilidade e de coparticipação, a fim de atuar ou modificar os programas previstos". 
  Para o especialista, essa iniciativa vai ao encontro de um princípio democrático que, embora originalmente liberal, atende uma legitimidade de todas as correntes políticas: a necessidade de "autonomia da sociedade civil em relação ao aparato do Estado". De fato, a maior participação do cidadão nos processos políticos, administrativos e legislativos o coloca numa posição de protagonista e não mais de refém em relação à coisa pública.
 
  Dificuldades históricas 
  Referindo-se à nossa experiência histórica sobre participação política do cidadão, Aragão cita a primeira obra que narra a História do Brasil, escrita em 1627, pelo frei Vicente do Salvador. "Nenhum homem nessa terra é repúblico, nem zela ou trata do bem-comum, senão cada um do seu particular", escreveu o religioso. Para o especialista, "a ausência de um senso comum impedia que a terra fosse tratada como uma coisa que beneficiasse a todos os que nela habitavam", o que parece explicar a experiência "centrífuga" da formação do Estado brasileiro o que, por sua vez, gerou um Estado central e centralizador, responsável por ditar a formação política da nossa sociedade.
  Já ao fazer referência ao período inicial da nossa República, Aragão vale-se de outro autor - José Murilo de Carvalho - para argumentar que a visão política brasileira permanecia marcada por essa visão elitista a respeito da participação política. "A República brasileira foi proclamada em uma sociedade profundamente desigual e hierarquizada, e num momento de intensa especulação financeira causada pelas grandes emissões de dinheiro feitas pelo governo para atender as necessidades geradas pela abolição da escravidão", explica o especialista. "Neste contexto, não havia preocupação com o público, predominava uma mentalidade predatória, aliada a uma ausência de um sentimento de comunidade, de identidade coletiva de pertença a uma nação", completa.
  De lá para cá, essa postura de falta de compromisso com a coisa pública pouco avançou, não só como demonstram as constantes revelações de atos de corrupção, como também por uma recorrente postura de passividade de grande parte dos cidadãos brasileiros ante a ação da classe política. Sérgio Prévidi - que já foi prefeito no interior do Estado de São Paulo - chama a atenção para o outro lado da questão: o lado de quem é candidato e, depois, é eleito a um cargo público.
  "A dificuldade é que o candidato nem sempre é um político livre, isto é, dono de suas atuações", diz Prévidi. E explica: "Muitas vezes, ao assumir compromissos com os eleitores, ele assume também com outros setores cujos interesses são opostos aos que assume com seu eleitorado. Uma vez eleito, o candidato fica entre cumprir os compromissos com seus eleitores e o compromisso 'comercial ou financeiro' com empresas".
 
  Protagonismo e comunidade organizada 
  Sérgio Prévidi, quando eleito, pôde vivenciar uma experiência significativa com relação a esse pacto político. Ele conta que um dos seus compromissos como candidato foi criar o Plano Diretor da sua cidade. Na ocasião, ele tinha dois caminhos: elaborá-lo com os técnicos e empresários do ramo imobiliário ou com a participação de representantes da comunidade, da sociedade civil organizada, além de técnicos e empresários. "Optei por escrever o Plano Diretor com todos os segmentos da sociedade e com o acompanhamento técnico de especialistas; assim, o grupo foi constituído por aproximadamente 130 representantes", conta Prévidi para quem, o resultado final contemplou o interesse de toda a sociedade local.
  No entanto, em razão da herança histórica de pouco espaço dado à participação do cidadão nas questões políticas de administração pública no Brasil, a esse mesmo cidadão é pedido, no momento atual, uma mudança de postura que sai do imobilismo para o protagonismo. Edelvira José de Godói, de 71 anos, é um exemplo nesse sentido. Aposentada e residente em Porto Alegre (RS), ela mantém um contato frequente com políticos de diferentes esferas do poder (em nível municipal, estadual e federal). Além disso, Edelvira mantém-se informada dos passos de seus representantes, especial-mente pela cobertura da imprensa e participa, com frequência, das sessões da Câmara e da Assembleia Legislativa. Dos políticos com quem mantém contato estreito, Edelvira cobra posições e explicações; para eles, manifesta suas opiniões e oferece sugestões. 
  Ela conta que, em certa ocasião, visitou um vereador e argumentou ser favorável a um projeto de lei que propunha que o teste de glaucoma fosse feito em cada criança que nascesse no município. Mais tarde, durante a sessão da Câmara, embora o projeto fosse iniciativa de um representante da oposição, o vereador insistiu em pedir a palavra no plenário da Câmara e defendeu a proposta para surpresa de todos. Essa experiência influenciou também a própria forma como ela passou a encarar a política, aprendendo a ouvir e considerar a posição de políticos de todos os partidos.
  O exemplo de Edelvira, no entanto, não é tão isolado como pode parecer. Ela integra o Movimento Político pela Unidade e, com outros membros do grupo em Porto Alegre, realiza essa mesma experiência do pacto político coletiva-mente. Edelvira diz acreditar que a atmosfera na Câmara de sua cidade sofreu transformações a partir do momento em que ela e o grupo passaram a manter um relacionamento harmonioso com os vereadores. Um sintoma disso é que a relação entre os próprios vereadores, independentemente do partido político, transformou-se - ao menos em parte - numa relação mais cordial e honesta, avalia. 
  De fato, é um consenso entre especialistas que, além da iniciativa pessoal, os cidadãos precisam aprender a organizar-se e agir coletivamente para fazer valer o pacto político selado com seus representantes no poder. Esse empreendimento significa, antes de tudo, resgatar ou mesmo criar o próprio sentido de comunidade, pelo qual, de acordo com Alexandre Aragão, reconhecemos o semelhante "como ser legítimo com quem se pode e se deve estabelecer uma convivência democrática na construção de um novo mundo solidário e de cidadania plena para todos os seres humanos". Aragão salienta ainda que esse empreendimento implica o fato de ser o povo a reinar sobre o mundo político. "A política é eminentemente uma ação ética e coletiva", diz ele. Mas adverte sobre a experiência brasileira: "Esta lição ainda não aprendemos inteiramente".

Por: Luís Henrique Marques
fonte:http://www.cidadenova.org.br/RevistaCidadenova/ArtigoDetalhe.aspx?id=3938
Julho de 2010